Cangar os bois na carroça para algum transporte na propriedade era uma grande alegria. Nossos bois mansos de arar e puxar a carroça tinham os nomes de FIDALGO e DELICADO. O Fidalgo era um pampa preto manso e de boa paz na verdade tinha uma certa fidalguia no porte. O Delicado era um zebu enorme e forte com um pelo lindo e sedoso cheio de manchas e tons. Sempre achei uma lástima ele não ter ficado para reprodutor. Havia de se ter cuidado com ele, pois o nome se devia ao fato de ele ser um animal sestroso e imprevisível, isto é, não queria saber de intimidade. Papai dizia que um zebu nunca se amansa. Se você facilita ele lhe dá um coice ou chifrada. O Fidaldo sofreu muito, pois tinha um câncer no olho. Foi vendido para o frigorífico. O ser humano nunca teve piedade para os escravos de sua espécie, não se pretendia que tivesse para com os animais. O BOI, A VACA e o CAVALO deveriam ter em cada cidade, um monumento, em gratidão pelos serviços prestados a humanidade. Sem falar do cão prestando um serviço de sentinela na solidão das coxilhas junto com a ave quero-quero, chamada a sentinela dos pampas. Ainda há o serviço dos gatos contendo a população dos ratos. Dizem que a peste negra na Europa se deveu ao fato da superstição vigente acabar com os gatos o que propiciou a proliferação dos ratos e com ele veio a Peste. Mas, um belo dia o velho, pioneiro no rincão, comprou 50 borrêgas e um carneiro. Na campanha gaúcha a fêmea chama-se ovelha, o filhote cordeiro, o cordeiro adolescente borrêgo, o macho adulto castrado capão e o reprodutor esse sim, carneiro. Foi minha primeira viagem fora do rincão deslocando-se até o Rincão vizinho. A emoção foi a mesma quando fui a Palmas no TOCANTINS de carro 3.000 Km. Ao chegar nos trilhos da Maria fumaça o velho mandou lêr as três placa em triângulo, PARAR – OLHAR – ESCUTAR, faça sempre isso, ensinou. Chegamos com o jovem rebanho e soltamos no campo, era um alecrinzal que encostava nos pelegos, mas em 3 anos sumiu, o campo ficou limpo somente pasto, é que ovelha dá um olho por uma folha de alecrim. Mas eu que era o pastor dos perus que minha mãe criava para vender, não eram perus de hoje tipo 4 kg. Eram perus do tipo selvagem dos USA, pesando 8 kg. andava o dia todo atrás do bando para não perde-lo de vista, pois podia anoitecer e posarem no campo e as raposas e graxains comê-los. Eu inventei até umas boleadeiras de limão verde para pega-los e um laço de piola (cordão) de pescar. Quando cansava de acompanha-los os encerrava em uma península no açude e sentava na entrada. Depois de algum tempo eles voavam por cima da água, e lá ia eu de novo atrás do bando. Fui promovido a pastor de ovelhas, o que não era fácil, pois os fazendeiros ricos tinham aramados de 7 fios o que continham suas ovelhas, mas nosso aramado só tinha 5 fios, elas o atravessam por baixo do arame nas pequenas depressões do terreno e invadiam o campo vizinho. Eu sabia que tinham saído porque deixavam a lã enroscada no arame ao passar. E assim passava meus dias envolvido com as ovelhas, cuidando, curando bicheiras. Retirando (coreando) o pelego das que morriam, improvisando e consertando bretes (currais). Eu disse para um jovem vegetariano que carneava as ovelhas para o consumo sangrando-as com uma faca, e que minha mãe não tendo coragem, pendurava o peru pelas pernas e me dava uma faca para sangra-lo, ele ficou escandalizado. Com uma mente infantil com poucos arquivos podia observar tudo, uma coisa que pouca gente sabe é que os animais tem expressão fisionômica que nem gente, quando faltava uma ovelha eu sabia que era a que tinha o rosto tal. Na época das ovelhas parirem uma vez por outra uma abandonava o filhote eu o recolhia para casa para ser criado guacho com leite de vaca. Certa feita um cordeiro se debatendo no chão fui examina-lo e constatei, para meu espanto, que ele não possuía anus, tive de aplicar-lhe a eutanásia campeira. Muitas ovelhas pariam dois cordeiros.
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Memorias de um doble chapa IX
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Uma vida cheia de memórias fantásticas e impressionantes.
ResponderExcluirBeijinhos.
Muito interessante. Mas alguns nomes eu não sei,acho que tem palavras que dependendo do estado são outras.
ResponderExcluirbjs!
Una vida llena de recuerdos y muchas historias por contar!
ResponderExcluirGracias por compartirlas!
Besos de las dos
Olá Anajá!
ResponderExcluirRelato bonito cheio de boas recordações.
Obrigada por compartilhar!
Beijos, ótimo fds junto a sua família ♥
Gostei de ler o seu relato, Anajá
ResponderExcluirAgradeço a sua gentil visitinha, querida
Um beijinho carinhoso de
Verena e Bichinhos
Una historia de campo intensa y emocionante, tan diferente de nuestra vida de ciudad. Encantadas de conocerte y de visitar tu blog.
ResponderExcluirMuchos besos de las dos
Julia y Yenia
Olá, passando para deixar um abraços. Bom final de semana,
ResponderExcluirOi dona menina! kkkk
ResponderExcluirQue bancana esse texto! Sensibilidade, emoção, sentido de vida, desejo é o que se pode dizer, muito 1000...
Realmente!
O Sibarita
Concordo, lindo relato!!!
ResponderExcluirAdoro os textos postados aqui!!
Beijos e bom final de semana! =)
Relatos campestres que remetem à minha aldeia, afinal a Beira Alta portuguesa tem tantas similaridades com essa vossa cultura...pode mudar o género mas fica a substância.
ResponderExcluirGosto e admiro este género descritivo que puxa pelo imaginário de quem desconhece "estas andanças" e reaviva quem com tais conviveu.
Sorte de quem foi criado no campo, tal como a minha.
Cada animal da casa, era parte integrante do quadro familiar e como tal tratado e respeitado.
Com agradecimento mesmo aquando chegava a hora de festa e repousava convidativo na mesa, quase soltando um sorriso de dever cumprido.
Beijinho e Abraço grande ao Alfredo.
Vidamiga
ResponderExcluirAdoro ser capaz de reproduzir memórias; eu também estou a fazê lo lá na minha Travessa. Tens uma arte excelente para escreveres o que escreves e felizmente me (nos) ofereces. E, além destes predicados, tenho de te dizer que é linda. Por isso dou-te os meus parabéns: pelo blogue, pelo texto e por ti.
Não leves isto a mal. Vou fazer 73 anos a 20 de Setembro. Bodas de Oiro em 26 de Dezembro de 2013. Três filhos, três noras/filhas, uma neta e quatro netos. Se quiseres saber mais de mim vai sff à minha Travessa que assim passará a ser também tua, ou seja, nossa.
Qjs = queijinhos = beijinhos - e até rimam...
Oiii
ResponderExcluirsaudade de visitar o blog e seus textos ótimos!!!
bjinho
www.enquanto-isso.com
Ternura a desfilar em forma de recordações.
ResponderExcluirVenham mais...
Beijinhos
Oi querida Anajá!
ResponderExcluirAnimada fazendo golas? Muito frio aí na sua região?
Saudades de passar por aqui.
beijos e bom fds
Uma vida rica de memorias.Desejando um lindo domingo minha amiga .beijos.
ResponderExcluirthats awesomeeeeeeee =)
ResponderExcluirhttp://thefantasticfashionworld.blogspot.com.es/
Que bom fazer as vistas e ler relatos
ResponderExcluirtão interessantes, uma riqueza sem igual
eu adoro
Abraços com carinho
____________Rita!
Gostei muito de ler mais este texto. É sempre tão bom saber estas coisas.
ResponderExcluirDesejo que se encontre bem e a passar um bom domingo.Bj. Irene Alves
Oi amiga!
ResponderExcluirCheguei p/acompanhar mais umas memorias (adoro)...
Bjssssssss e uma semana de muito sucesso e abençoada p/essa família linda
Hola Anaja querida ! Gran relato ,,,que tengas un óptimo comienzo de semana
ResponderExcluirBesos
E vamos revivendo as suas memórias consigo, Anajá.
ResponderExcluirBoa semana