sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Memórias de um doble chapa XVIII


Trabalhei na dita granja de cozinheiro dos tratoristas, até hoje me pergunto como não sofreram com as minhas gororobas. Era preciso transformar a terra bruta de várzeas e banhados em lavoura de arroz. O Acampamento era uma Casa de tabuas e telhado de latas zincadas, possuía 2 rodas de carroça. Mudando-se o acampamento cavavam-se dois valos a pá e deixavam-se as rodas caírem dentro, com isso a casa ficava rente ao chão. Fomos lavrando por um lado de um rio que ia dar na grande barragem, e retornamos pelo outro lado, comendo peixe frito direto, (Piava) nos as cevávamos com sobras de arroz da cozinha e depois as pescávamos. Eram dois turnos de 12 horas lavrando dia e noite. Uma vegetação de espinhos de caraguatá e outros, que encobriam os tratores. Foi nesse tempo que aprendi a trabalhar em tratores, Os tratorista sentavam na sombra e lá ia eu fazer o serviço dele, pra mim dirigir um trator nem era aprendizado, mas divertimento. Foi nessa época que aconteceu algo que me marcou. Nunca se deve sugestionar nada negativo na cabeça de um adolescente. Havia um sujeito muito gozador que chegava a meia noite do seu turno e suspendia a minha cama com outro e pretendendo que eu estivesse morto (morreu o castelhano, dizia) insinuava sempre que eu era tão feio que parecia um defunto. E sempre nas brincadeiras insinuava sempre que eu era feio, e eu me olhava no espelho e concordava com isso. No casamento de minha irmã mais velha, dona Odila minha companheira de 46 anos me convidou para tirar uma foto, eu tinha 15 anos ela 18, ela toda vestida de branco como se fosse uma noiva e eu de terno azul marinho, dir-se-ia que eram os noivos, mas era apenas uma foto, que eu fiquei com uma cópia, acabei me engraçando por ela. Mas durante a foto o noivo, fez uma observação. Mas, uma guria tão bonita tirando foto com um rapaz tão feio! Com isto acabei introjetando o conceito que eu era um sujeito feio e aceitava a ideia com naturalidade. Um certo dia na granja, vi um monomotor voar em círculos baixinho e aterrissou. Era um primo meu aviador que veio nos levar eu e meu irmão para o velório do cunhado que havia casado a um ano, creio, e morreu assassinado. Durante muito tempo sempre que sentia o ruído de um avião eu ficava nervoso... 


Na próxima sexta-feira, segue mais recordações de um doble chapa.

                                                             Escrito por Nelcy Cordeiro


6 comentários:

  1. Ô Nelcy! kkkkk Então vc foi cozinheiro dos tratorista é? kkkkkk Acabei de falar com um deles, o Toninho perneta lembra-se? kkkkkkkkkkkkkkk Ele me disse que tem saudades dos velhos tempos e principalmente das suas gororobas e ai? kkkkkkkkkkkk

    Ô seu feio vc deu sorte casou né? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Dona moça do blog que porreta esses textos do Nelcy (Doble chapa ) me divirto, rio com as histórias dele e essa de que ele era muito feio... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Bacana mesmo!

    O Sibarita

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    1. Essa afirmação de que eu era feio eu a introjetei por ser adolescente, e isso perdurou até mais ou menos meus 40 anos, depois fui descobrindo que não era bem assim, eu estava dentro da media de apresentável na comunidade.
      Quanto a feio casar, afirmo que todos eles casam, o que se vê em realidade é que os solteirões e solteironas o são por outros motivos, pois quase na totalidade são pessoas bonitas. Eu conheci uma senhora camponesa que era tão feia que parecia estar do avesso, em compensação tinha uma simpatia e um magnetismo pessoal, que onde ela estava, prendia a atenção de todos e a gente não enxergava sua feiura mas a beleza de pessoa que era. Nelcy

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  2. Vida dura mas saudável.

    Memórias que perdurarão para sempre!

    Que maravilha de história de uma vida!

    Beijinhos..

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  3. E vamos acompanhando este excelente desfolhar de memórias.
    Boa semana

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  4. Fala-se muito em serviço escravo, penso que aqueles anos na granja de arroz foi um verdadeiro serviço escravo, trabalhava-se sempre, sem folga aos domingos, as vezes era 25 de Natal e arrombava um valo de irrigação e lá estávamos nós carregando blocos de terra com grama para conserta-lo, lá trabalhei na pá de corte, no arado puxado a bois, com 15 nos carregava um saco 50 Kg de arroz na cabeça, o serviço mais ameno era no trator turnos de 12 horas. Mas hoje me sinto orgulhoso de ter vivido todas essas experiências, elas me amadureceram e enriqueceram-me a existência. Com a experiência de vida que adquiri posso dizer hoje;
    " QUE POSSO IDENTIFICAR UM RENGO SENTADO E UM TORTO DORMINDO" muita paz a todos. Obrigado por vossas bondosas palavras.

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Obrigada pela carinhosa visita. Tenha um ótimo dia.