sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Memórias de um doble chapa VII


Eu e meus irmãos se olhássemos hoje para a nossa casa e a roupa, diriam que estávamos abaixo da linha da miséria. Era pezito descalço o dia todo, chinelo era só para lavar os pés à tardinha e calçar para ir dormir com os pés limpos. No quarto de minhas irmãs a parede tabua podre roída rente ao piso, dava para cruzar um gato a galope por baixo. O piso de chão batido, vez por outra tinha de ser aterrado pois de tanto molhar para não levantar poeira e varrer ia gastando. Havia uma história de um cara pagando uma promessa fez um baile que iria durar um ano, seu amigo que estava a um ano ausente quando chegou encontrou a turma dançando a 3 metro de profundidade, explicaram que dele água e dele vassoura de carqueja o piso foi gastando. Mais tarde papai fez uma casa de tabuas grotescas, com quatro cômodos. A cozinha uma varanda nos fundos com piso de tijolo de campo uma mesa grande. Em uma extremidade a despensa com taquaras paralelas no teto para penduras o charque e linguiças na entrada do inverno, quando se carneava uma vaca e um porco. Ao lado o quarto de banho. Isto é, quarto de banho mesmo, era uma peça com uma bacia de lata de um metro de diâmetro, ali se banhavam as mulheres. O Pai e a gurizada era na sanga, com ou sem frio. A sala e o quarto do casal ganharam janelinha tipo 60 cm de lado, cada uma com 4 minúsculos vidros. Pronto, foi um escândalo para a parentada e a vizinhança. O comentário geral era que, Oralvino estava rico! Pois tinha até janela com vidro. O Seu Goíta, vizinho, comentou que pensava colocar janelas com vidro pois a casa iria ficar mais fresquinha. Alguém observou-lhe que em vidro não entra vento, ao que ele obtemperou, mas sempre um arzinho há de entrar. A casa ganhou até patente. Antes o bolo fecal era depositado atrás das taquareiras. Papai enveredava ao meio dos eucaliptos com um sabugo de milho para papel higiênico, limpava e coçava ao mesmo tempo o dito. Nos a gurizada ganhava o meio dos mamoneiros e limpava com as folhas deste, limpava o grosso, pois umas folhas lizas não tinham como absorver. Mas vivíamos bem alimentados, bebíamos um copo de leite ordenhado na mangueira (curral). Após um café com leite gordo e pão caseiro. Nosso pai tomava na mangueira mesmo um copo grande de leite recém ordenhado em cima de um ovo cru com açúcar e azeite, creio que era o Viagra dele. Ao meio dia quase que invariável no inverno, feijão e arroz carreteiro de charque. No verão compunham a alimentação frutos da lavoura.


Na próxima sexta-feira, segue mais recordações de um doble chapa.
                                                                      Escrito por Nelcy Cordeiro




28 comentários:

  1. Infância bem vivida, com certeza!!! Adoro suas recordações, uma delícia de ler!
    Beijos, bom final de semana.

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    1. Essas são as memórias de meu querido amigo Nelcy, Ele nasceu na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Eu nasci no litoral, mas também próxima da fronteira. Tem muitas coisas em comum. Mas como nasci uns 40 anos depois, a vida já estava bem melhor.
      Bjos tenha um ótimo fim de semana.

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  2. É na simplicidade que encontramos as melhores coisas do mundo...!!! Lembranças pra uma vida inteira!!! Lindo final de semana pra ti!! =)

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    1. É verdade, o Nelcy sempre que vem me visitar fala dos velhos tempos. Passando longas horas falando das coisas boas da vida.
      Bjos tenha um ótimo fim de semana.

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  3. Los recuerdos de la infancia son muchas veces los más felices y nítidos que tenemos!
    Unos recuerdos muy bonitos!
    Besos de las dos

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    1. Recorda parece que nos aproxima mais dos bons tempo vivido.
      Bjos tenha um ótimo fim de semana.

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  4. passando pra desejar um otimo final de semana .beijocas minha flor.

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  5. Nada fácil viver nessas condições, bom final de semana Anajá, beijos

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    1. Esse ocorrido foi a 50 anos atrás, hoje em dia a vida está muito boa. E onde nasceu o Nelcy, avida continua simples, mas com muita comodidade.
      Bjos tenha um ótimo fim de semana.

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  6. Recordações da infância mesmo sofrida é muito bom!
    tempos difíceis aqueles!
    hoje tudo mais fácil..
    bjssss e belo fim de semana!

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    1. É verdade, era difícil até conseguir alimentos. Muitos tinham dinheiro mas não tinha aonde comprar. A vida está mais fácil, mas naquele tempo se parecia mais feliz.
      Bjos tenha um ótimo fim de semana.

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  7. OI ANAJÁ!
    UM TEMPO SEM NADA DO QUE HOJE CONSIDERAMOS ESSENCIAL PARA VIVER E LENDO O TEXTO, PERCEBE-SE QUE HAVIA ALEGRIA, PRINCIPALMENTE NAS CRIANÇAS QUE CURTIAM PRINCIPALMENTE A NATUREZA E ERAM FELIZES A A SUA MODA.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  8. Ai, vim correndo p/não perder as memórias do Nelcy. Adoro...
    Amiga, depois vou te passar um e-mail contando as peripécias na Adriana kkkkk

    Bjssssssssss p/essa família linda e um FDS muito abençoado p/vcs

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  9. É tão bom podermos recordar a nossa infância!
    Grata pela partilha da bela descrição!
    Bj

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  10. tão bom recordar a nossa infancia :)

    Portuguese Girl with American Dreams
    http://fromportugaltonyc.blogspot.pt/

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  11. Sem comodidade ou luxos, mas com alegria e barriga cheia E tudo tão limpinho, que o chão chegava a gastar. Isso é o que eu mais admiro no povo do sul do Brasil

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  12. Estou amando receber as postagens sobre as "Memórias de um Double Chapa", acredito que nesse tempo não havia ansiedade, não tinham tempo para pensar, nem televisão para almejar, Tudo era tão mais simples, mais verdadeiro, não é?
    Agradeço e desejo um maravilhoso final de semana, abraços carinhosos
    Maria Teresa

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  13. Olá!!!
    Passando para deixar um abraço e desejar um domingo abençoado para você e seus familiares.
    Já começou a realizar o pedido esécial da filhota?? Quero ver esse vvestido sair!! Vamos lá.. Você consegue!
    Beijos, Renata.

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  14. Querida amiga

    Toda memória
    é para mim
    uma espécie
    de renascer...

    ________________________

    Que tenhas tempo
    de descobrir que a vida
    se alimenta dos momentos presentes,
    e que nestes momentos
    está a nossa felicidade.

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  15. Anajá querida,
    Estamos amando as histórias que são verdadeiras,pois minha contou que não havia essa
    confusão de andar estressada como as pessoas estão,havia muito mais alegria em tudo.
    Vendo a questão do papel é verdade,usava folha de bananeira e para escovar os dentes
    era folha de goiaba e assim se tocava a vida.Ótima partilha!Um maravilhoso e
    abençoado domingo.
    Grande beijo

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  16. Estes momentos ninguém apaga da memória, beijo Lisette.

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  17. Voltei das férias e ja vim retribuir as visitinhas no meu blog.
    E todos nós temos nossas histórias quando crianças.Éramos felizes e nao sabiam.Na pobreza ou não,nós brincávamos e muito naquele tempo.Coisas que hoje em dia as crianças nao fazem.Amei ler esta história.
    bjs!

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  18. Querida Anajá
    Pelos relatos do senhor Cordeiro,podemos deduzir que não é preciso ser-se rico para ser feliz!
    Gostei imenso:outros tempos,outras terras,outros costumes...
    Um beijinho
    Beatriz

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  19. Memórias de tempos mais difíceis.
    Mas não menos felizes.
    Boa semana!

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  20. Não passando fome, nada nos faltava para ser feliz.
    Hoje temos de tudo e por vezes uma sensação de vazio.

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  21. Uma felicidade bem mais simples, bem mais vivida...
    Lindo dia pra você
    FanPage Lih só faz Artes
    Lih só faz Artes Blog
    Bjus
    Lih

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Obrigada pela carinhosa visita. Tenha um ótimo dia.