sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Memórias de um doble chapa XI



OS CAVALOS


Toda pessoa possuía um cavalo para se deslocar, por mais pobre que fosse, da mesma maneira que todo sujeito por mais pobre possui ao menos uma bicicleta. Possuir carroça de cavalo ou ainda charrete equivalia a ser proprietário de um automóvel nos anos 70. Os cavalos de nossa propriedade eram a RAPINA, uma égua alazã que foi parelheira de corrida. Até hoje não entendo como podia ser boa de pata com aqueles cascos do tamanho de uma frigideira. O DOURADO, de pelo avermelhado, ambos de montaria do velho, o Dourado eu não gostava de andar, se assustasse de uma plantinha na relva e você não estivesse firme no lombilho (arrêlho, encilha), ele fazia uma repentina curva e deixava você montado no ar. A MARCHADEIRA era uma égua bonita mas tinha uma rendidura na genitália de onde saiam barulhos estranhos e muitos puns. Hiper mansa, era a que se pegava para trazer os demais cavalos, para trazer as vacas para encerrar os terneiros, arrastar água da cacimba numa forquilha com um barril. A RATA pequena, feiinha, barriguda. A LUBUNA pequena, lerda era também de prender na charrete. O velho saia com ela na charrete e cada um que encontrasse na estrada parava para conversar, todos se conheciam, só que ela pegou o embalo de parar sempre que defrontava alguém na estrada e isso nos constrangia, pois a pessoa acreditava que nós lhe queríamos lhe dirigir a palavra. A égua do Juracy, irmão mais velho, era a que todos queriam montar, ágil e voluntariosa. Tinha ainda um TORDILHO negociado com o vizinho Apuleu, tinha o cômodo horrível como o de um camelo. A cavalhada gostava muito de comer grama no alagado do açude, as vezes saim de lá cheios de sanguessugas nas pernas. O açude nunca secou em nenhuma estiagem, era bebedouro dos animais, onde se lavava a roupa, e pescava-se uma o outra traíra cuja cabeça era a parte predileta do velho, feita com molho ele a desmontava chupando cada um da infinidade de ossinhos. Dia de banhar o gado, era aquela discussão da gurizada cada qual queria os melhores arreios e o melhor cavalo. Afinal juntávamos o gado para levar no banheiro da fazenda do Sr. LEOPOLDO SCHILING, lá aonde minha mãe casou e eu acabei também casando com a filha de um capataz. Um velho mais sério do que capincho (capivara), tinha 7 filhas e 7 filhos, uma delas devia ser bruxa e um deles lobisomem pela crendice popular. Ainda bem que a minha companheira só usa vassoura para varrer. Quando eu era bem pequeno nossos cães eram o Paraná e o Sultão, ambos cuscos pequenos, ao morrerem, surgiu o Respeito um ovelheiro branco com coleira preta, tipo aqueles cães que os fazendeiros americanos fazem competição entre os mais inteligentes. E de fato era inteligente. Sempre que papai nos mandava juntar as ovelhas, ele se adiantava as ordens e fazia isso sozinho. Parecia que entendia a linguagem humana.

Na próxima sexta-feira, segue mais recordações de um doble chapa.

                                                             Escrito por Nelcy Cordeiro




24 comentários:

  1. Espero que tengas un fin de semana muy pura vida!

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  2. olha merece um livro...
    se é que já não tem ?!
    amiga belo fim de semana.
    beijocas,sejamos gentil.
    DEUS ABENÇOE A GRANDE FAMILIA.
    SAUDADONAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

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  3. Um belo texto repleto de doces recordações!
    E recordar faz bem à alma!!! BJ

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  4. Minha querida
    Obrigada por nos trazer estes relatos de outros tempos e costumes que o senhor Nelcy tão bem descreve.
    Bom fim de semana.
    Um beijinho
    Beatriz

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  5. Uma verdadeira relíquia, estes relatos.

    Recordações que perduram.

    Beijinhos,

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  6. Amei o texto ....Um Bom Fim de Semana p/ você e Família!!!

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  7. Thank you for your visit and nice comment today.

    I hope you have a lovely weekend,
    Carolyn

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  8. Que texto lindo! Amei muito!
    Bom final de semana lindona =)
    Beijos
    Camila

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  9. Passando para te desejar um lindo fim de semana.
    Abraços.

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  10. Boa noite e bom final de semana
    com muita chuva por aqui.

    Um verdadeiro amigo é alguém que pega a sua mão e toca o seu coração

    . (Gabriel García Márquez)

    Bjuss de sempre

    └──●► *Rita!!

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  11. Buenas.

    De relancina passei as enxergas em teu blogue, pois fico bispando um que outro e deparei-me com esta narrativa tão rica em detalhes que me fez voltar no tempo de quando eu era mandinho, meio biguano, e via vovô Ninica, um taita matreiro, corpulento como um touro, aperando as éguas Boneca e Estrela, com belos arreios que ele mesmo fazia para nos levar ao passo campo a fora.

    Quantas saudades.
    Quantas saudades vêm ajojadas às lembranças.

    Belo fim de semana a todos.

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  12. Belas recordações, querida
    Obrigada pela gentil visitinha.
    Lindo final de semana.
    Beijinhos de
    Verena e Bichinhos

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  13. Ola Anaja,um texto cheio de emocao .Feliz final de semana,beijinhos

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  14. Qué lindas memorias Anajà y muy interesantes.
    Te deseo un feliz fin de semana con tus afectos queridos
    Beijinhos!

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  15. Memórias todos nós temos, mas é a maneira de expressar que as torna tão especiais,como se estivessemos numa varanda, ouvindo histórias, antes de dormir.

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  16. Querida Anajá, gosto muito dos relatos do Sr. Nelcy, adoro ler essas memórias que nos faz ter boas recordações. Ri muito com os puns da égua kkkkk. Vim desejar também, um lindo final de semana junto a sua família. Beijinhos

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  17. Eu sou uma que adoro ouvir as pessoas de mais idade e tenho pena que as da minha terra não tenham um sítio (físico) onde possam ir para contar e nós (os mais jovens) ouvir. As histórias, contadas por quem as viveu, fazem muito mais sentido do que contadas por quem as ouviu e é pena que o jovens daqui a algum tempo quando os seus progenitores faltarem, saibam pouco do que foi a sua vida.
    A Anajá faz um belo trabalho, gosto muitos das memórias de um doble chapa e acho que tem de incentivar o Sr. Nelcy a deixar um registo de histórias de sua vida.
    Bjos e votos dum bom fim de semana.

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  18. Sr. Nelcy tem história para interessantes.
    Até se aprende sobre os costumes da terra.

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  19. Ei moça! Esse Nelcy é um grande contador de estórias, coisa rara nos dias atuais, os causos (estória por aqui) são envolventes e praticamente nos coloca dentro do texto.

    Desnecessário dizer da grandeza do texto!

    O Sibarita

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  20. Estou a gostar imenso destas memórias compartilhadas connosco.
    Até porque retratam uma realidade que não me é familiar.
    Boa semana

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  21. Mais uma história envolvente, de vivências e saberes tão desconhecidos pra mim. Adoro!
    Bjs querida, e uma linda semana!

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Obrigada pela carinhosa visita. Tenha um ótimo dia.