sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Memorias de um doble chapa IX


Cangar os bois na carroça para algum transporte na propriedade era uma grande alegria. Nossos bois mansos de arar e puxar a carroça tinham os nomes de FIDALGO e DELICADO. O Fidalgo era um  pampa preto manso e de boa paz na verdade tinha uma certa fidalguia no porte. O Delicado era um zebu enorme e forte com um pelo lindo e sedoso cheio de manchas e tons. Sempre achei uma lástima ele não ter ficado para reprodutor. Havia de se ter cuidado com ele, pois o nome se devia ao fato de ele ser um animal sestroso e imprevisível, isto é, não queria saber de intimidade. Papai dizia que um zebu nunca se amansa. Se você facilita ele lhe dá um coice ou chifrada. O Fidaldo sofreu muito, pois tinha um câncer no olho. Foi vendido para o frigorífico. O ser humano nunca teve piedade para os escravos de sua espécie, não se pretendia que tivesse para com os animais. O BOI, A VACA e o CAVALO deveriam ter em cada cidade, um monumento, em gratidão pelos serviços prestados a humanidade. Sem falar do cão prestando um serviço de sentinela na solidão das coxilhas junto com a ave quero-quero, chamada a sentinela dos pampas. Ainda há o serviço dos gatos contendo a população dos ratos. Dizem que a peste negra na Europa se deveu ao fato da superstição vigente acabar com os gatos o que propiciou a proliferação dos ratos e com ele veio a Peste.  Mas, um belo dia o velho, pioneiro no rincão, comprou 50 borrêgas e um carneiro. Na campanha gaúcha a fêmea chama-se ovelha, o filhote cordeiro, o cordeiro adolescente borrêgo, o macho adulto castrado capão e o reprodutor esse sim, carneiro.  Foi minha primeira viagem fora do rincão deslocando-se até o Rincão vizinho. A emoção foi a mesma quando fui a Palmas no TOCANTINS de carro 3.000 Km. Ao chegar nos trilhos da Maria fumaça o velho mandou lêr as três placa em triângulo,  PARAR – OLHAR – ESCUTAR, faça sempre isso, ensinou. Chegamos com o jovem rebanho e soltamos no campo, era um alecrinzal que encostava nos pelegos, mas em  3 anos sumiu, o campo ficou limpo somente pasto, é que ovelha dá um olho por uma folha de alecrim. Mas eu que era o pastor dos perus que minha mãe criava para vender, não eram perus de hoje tipo 4 kg. Eram perus do tipo selvagem dos USA, pesando 8 kg. andava o dia todo atrás do bando para não perde-lo de vista, pois podia anoitecer e posarem no campo e as raposas e graxains comê-los. Eu inventei até umas boleadeiras de limão verde para pega-los e um laço de piola (cordão) de pescar. Quando cansava de acompanha-los os encerrava em uma península no açude e sentava na entrada. Depois de algum tempo eles voavam por cima da água, e lá ia eu de novo atrás do bando. Fui promovido a pastor de ovelhas, o que não era fácil, pois os fazendeiros ricos tinham aramados de 7 fios o que continham suas ovelhas, mas nosso aramado só tinha 5 fios, elas o atravessam por baixo do arame nas pequenas depressões do terreno e invadiam o campo vizinho. Eu sabia que tinham saído porque deixavam a lã enroscada no arame ao passar. E assim passava meus dias envolvido com as ovelhas, cuidando, curando bicheiras. Retirando (coreando) o pelego das que morriam, improvisando e consertando bretes (currais). Eu disse para um jovem vegetariano que carneava as ovelhas para o consumo sangrando-as com uma faca, e que minha mãe não tendo coragem, pendurava o peru pelas pernas e me dava uma faca para sangra-lo, ele ficou escandalizado. Com uma mente infantil com poucos arquivos podia observar tudo, uma coisa que pouca gente sabe é que os animais tem expressão fisionômica que nem gente, quando faltava uma ovelha eu sabia que era a que tinha o rosto tal. Na época das ovelhas parirem uma vez por outra uma abandonava o filhote eu o recolhia para casa para ser criado guacho com leite de vaca. Certa feita um cordeiro se debatendo no chão fui examina-lo e constatei, para meu espanto, que ele não  possuía anus, tive de aplicar-lhe a eutanásia campeira.  Muitas ovelhas pariam dois cordeiros.

Na próxima sexta-feira, segue mais recordações de um doble chapa.
                                                             Escrito por Nelcy Cordeiro




quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A espreita



Cansado de grandes viagens, descansa a sombra esse possante caminhão, que teve dias de glória e hoje nas sombras observa o vai e vem da modernidade.


Até a próxima se Deus quiser...

 Anajá Schmitz

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Uruguai - Rio Branco


Olá! As fronteiras sempre tiveram um fascínio. Quando era criança e morava em Solidão, se falavam muito em contrabando vindo da fronteira. De lá vinha armas e bebidas. A maioria do moradores da região morriam de medo e conversavam em sussurros quando alguém trazia algo. Certa vez apareceu por lá um tal de Silvino, vindo do Uruguai. Ele comprava couro de ratão do banhado para levar para Argentina, por lá tinha grandes empresas que fabricavam casacos de pele. Pela redondeza, todos os guris malandros começaram a caçar ratões para vender para o castelhano, os couros. Foi uma matança braba. Durou pouco tempo pois a contrabandista Silvino desapareceu, ficou somente as armadilhas, uma delas enfeita a parede do galpão lá de casa, que achei perdida no banhado. Mas voltando ao caso da fronteira. Atualmente muitos brasileiros vão a Rio branco (URY) fazer compras. Os pneus são os artigos mais cobiçados, já que a diferença de preço é atraente. Para mim, os móveis antigos foram um grande achado. Uma pena eu não ter um caminhão. 











Esse bife uruguaio é uma delicia. Já fiz em casa e mostrei  aqui .



Se fores ao Uruguai não saia de lá sem visitar as padarias. Os pães são maravilhosos. 

Aqui está o comércio de moveis usados do Seu Carlitos.














Até a próxima se Deus quiser...

 Anajá Schmitz