terça-feira, 17 de abril de 2018

Gamela


Quando Alfredo fez essa gamela, logo me lembrei do poema Madrugada (Apáricio Silva Rilo) que ele declamava para mim quando nos conhecemos. Esse poema retrata tal e qual era minha vida na Solidão. Meu pai acordava de madrugada. Fazia o fogo para esquentar a água do chimarrão. E o estalar da lenha queimando sempre me acordava. E essa música completa a descrição.
No poncho morno das cinzas,
dorme o fogo de galpão.
Ao escasso calor de seus carvões a cuscada, 
se entrevera com os peões,
partilhando uma sobra de pelego.

- Vai pro diabo excomungado!

Enquanto o guaipeca atarantado
se amoita pra outro lado fazendo volta e meia,
um peão, vai bombear se já clareia,
a barra vermelha da saia do céu.

- Tá na hora, pessoal!

Lava a cara, na gamela de água fria,
enchuga as mãos ao comprido da melena.
Põe erva no porongo, aviva o fogo,
cutuca forte um índio dorminhoco:

Te levanta, cara de louco!

E enquanto chia a cambona
coberta de picumã,
emponchada no brilho da alvorada,
boleia a perna, a dona Madrugada,
para abrir a cancela da manhã...










Até a próxima se Deus quiser...


 Anajá Schmitz