O POR DO SOL
As galinhas ficavam naquele alvoroço disputando o melhor lugar nos puleiros ao entardecer. Estes eram ao relento, pois nossos pais criavam assim desta maneira acreditando que elas pegariam menos pestes. Algumas dormiam empoleiradas nos galhos de laranjeiras e limoeiro.Era tarefa de minhas irmãs abastecer os lampiões de querosene para a noite que se avizinhava. A gurizada lavar os pés na gamela enorme de cortiça para calçar as alpargatas e ir para a cama com os pés limpos. Ao longe por detrás de uma coxilha, na estância do João Garagori apareciam as pontas do eucaliptal e a torre de um tal de cata-vento, um aerogerador de energia que podia ser de 6 ou 12 volts. Armazenava energia nas baterias que iriam abastecer a iluminação e ativar o rádio. Lá diziam que tinha a tal de luz elétrica. Eu não fazia a menor ideia do que fosse. Os pobres quando conseguiam uma lâmpada incandescente queimada faziam dela um candeeiro, furando a parte de cobre e colocando um pavio no interior. Enchia-se de querosene e fazia-se apoio com pés de arame. Alguém mais ignorante que eu, me disse que ouviu dizer que esfregando-se a rosca de cobre a lâmpada acendia, e eu dele a esfregar e nada.Finalmente um dia minha irmã mais velha casou e o marido muito esclarecido e habilidoso construiu uma torre de madeira e instalou um cata-vento que papai havia comprado. Gerava somente 6 volts possuía uma única bateria, para economiza-la fazia-se um furo na parede de tábua junto ao teto e ali colocava-se a lâmpada e assim iluminava 2 cômodos ao mesmo tempo. Acostumados com lampiões de querosene, era luz em exagero. Comparada coma iluminação dos candeeiros era um esbanjo de luz.
Na próxima sexta-feira, segue mais recordações de um doble chapa.