Trabalhei na dita granja de cozinheiro dos tratoristas, até hoje me pergunto como não sofreram com as minhas gororobas. Era preciso transformar a terra bruta de várzeas e banhados em lavoura de arroz. O Acampamento era uma Casa de tabuas e telhado de latas zincadas, possuía 2 rodas de carroça. Mudando-se o acampamento cavavam-se dois valos a pá e deixavam-se as rodas caírem dentro, com isso a casa ficava rente ao chão. Fomos lavrando por um lado de um rio que ia dar na grande barragem, e retornamos pelo outro lado, comendo peixe frito direto, (Piava) nos as cevávamos com sobras de arroz da cozinha e depois as pescávamos. Eram dois turnos de 12 horas lavrando dia e noite. Uma vegetação de espinhos de caraguatá e outros, que encobriam os tratores. Foi nesse tempo que aprendi a trabalhar em tratores, Os tratorista sentavam na sombra e lá ia eu fazer o serviço dele, pra mim dirigir um trator nem era aprendizado, mas divertimento. Foi nessa época que aconteceu algo que me marcou. Nunca se deve sugestionar nada negativo na cabeça de um adolescente. Havia um sujeito muito gozador que chegava a meia noite do seu turno e suspendia a minha cama com outro e pretendendo que eu estivesse morto (morreu o castelhano, dizia) insinuava sempre que eu era tão feio que parecia um defunto. E sempre nas brincadeiras insinuava sempre que eu era feio, e eu me olhava no espelho e concordava com isso. No casamento de minha irmã mais velha, dona Odila minha companheira de 46 anos me convidou para tirar uma foto, eu tinha 15 anos ela 18, ela toda vestida de branco como se fosse uma noiva e eu de terno azul marinho, dir-se-ia que eram os noivos, mas era apenas uma foto, que eu fiquei com uma cópia, acabei me engraçando por ela. Mas durante a foto o noivo, fez uma observação. Mas, uma guria tão bonita tirando foto com um rapaz tão feio! Com isto acabei introjetando o conceito que eu era um sujeito feio e aceitava a ideia com naturalidade. Um certo dia na granja, vi um monomotor voar em círculos baixinho e aterrissou. Era um primo meu aviador que veio nos levar eu e meu irmão para o velório do cunhado que havia casado a um ano, creio, e morreu assassinado. Durante muito tempo sempre que sentia o ruído de um avião eu ficava nervoso...
Na próxima sexta-feira, segue mais recordações de um doble chapa.
Escrito por Nelcy Cordeiro