sexta-feira, 4 de julho de 2014

Memórias de um doble chapa I


AS ORIGENS
     Doble chapa é uma gíria que identifica o sujeito cujos pais são um brasileiro e outro uruguaio, por extensão é chamado todo aquele que nasce na fronteira oeste do RS. A expressão doble chapa veio dos automóveis em Livramento-RS, que para circular em Rivera no Uruguai, e vice versa, cidades separadas apenas por uma rua que é linha divisória dos dois países, tinham que ter as duas placas. Os uruguaios os chamavam de Doble chapa.
     Sou filho de pai brasileiro e hijo de madre oriental. Diz a música nativista. Uma castelhana de Minas de Corrales – Uruguay. O pai de minha mãe, veio para o Brasil para trabalhar de chacareiro de uma fazenda. Ela e seus irmãos ajudavam no cultivo. Na colheita do milho, as mulheres guardavam as palhas mais sedosas e a noite as aparava e formava maços os quais trocavam por cortes de vestido de chita com o Mascate, para ir aos bailes, umas das poucas maneiras dos jovens se conhecerem e casarem. Sem gastar nada com hospedagem o mascate (Vendedor ambulante com uma carroça normalmente puxado por mulas) ia de propriedade em propriedade vendendo sua mercadoria. Dai o ditado (mais viajado que cachorro de mascate) Obs. ninguém cobrava alimentação de um viajante na campanha gaúcha. Os Sírios Libaneses enriqueceram vendendo roupas aos camponeses. Certa feita chegou um desses na nossa casa com duas malas enormes, a pé, e começou uma chuva que durou uma semana e ele ficou hospedado de graça por todo esse tempo. 
     Na estância de Dom Leopoldo Schilling onde eu também acabei casando, casou-se a Castelhana com Dom Oralvino Machado Cordeiro natural do Rincão dos Cordeiros, 3º distrito de Livramento, dito Rincão, tinha esse nome porque todo mundo era parente ou aparentado, até hoje existe um colégio estadual onde a maioria absoluta dos alunos era desse sobrenome. Certa feita um piá que começava a aprender geografia, perguntou ao pai gaudério onde ficava o Rio Grande do Sul, ele respondeu que eram aquelas terras ao redor do Rincão. No horário de aula via-se a cavalhada dos alunos amarrada no aramado. Meus 4 irmãos mais velhos iam cada um com seu cavalo, como não sobrava cavalo manso pra mim, eu estudava em casa com minhas irmãs. O colégio ficava em uma área de terra a beira da estrada municipal, inserida nas terras da dita fazenda do Sr Leopoldo Schilling, que doou o local para construção da escola. As professoras eram moças, as vezes rapazes com um bom desempenho escolar. Contratadas pelo município para o magistério rural. Hospedada gratuitamente na casa de um dos alunos. Em Osório-RS, encontrei o professor Turíbio (bom na gaita de boca) formado na Escola Rural e mandado para aquele fim de mundo, mas guardava gratas lembranças dos bailes que meu tio Mindongo fazia, onde se hospedara nas cercanias do Colégio, morreu velho sempre comentando sua passagem pelo Rincão dos Cordeiros. 

Na próxima sexta-feira, segue mais recordações de um doble chapa.
                                                                                                Nelci Cordeiro

Fronteira entre Livramento-RS e Rivera-Uruguai


Rivera


Até a próxima se Deus quiser...
 Anajá Schmitz

20 comentários:

  1. As imagens são lindas e a texto bem interessante! Bj

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  2. Adoro estas memórias de vida!

    Uma narrativa fantástica!

    As fotos são fabulosas.

    Beijinhos

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  3. Anajá que festa linda que preparastes! Adorei as garrafas com velas, e as toalhas lindas demais!!

    Ei Nelci que narrativa gostosa, comecei a imaginar tudo que voce contava, interessante demais, isso que é ser um povo hospitaleiro -- ninguém cobrava alimentação de um viajante na campanha gaúcha. Os Sírios Libaneses enriqueceram vendendo roupas aos camponeses. Certa feita chegou um desses na nossa casa com duas malas enormes, a pé, e começou uma chuva que durou uma semana e ele ficou hospedado de graça por todo esse tempo.
    E a gente vai conhecendo um pouco desse lugar maravilhoso.
    Um grande beijo para voce Doble chapa e para voce Ananjá, um belo fim de semana.

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  4. Gostei de saber, adoro ir fazer compras por lá! bjs

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  5. Unas imágenes y un texto muy interesantes Anajá!
    Besos de las dos

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  6. Olá Anajá. Bom fim de semana.
    Olá Nelci. Que lindo este relato. Meu avô materno é Oriental, e mui temprano saiu do Uruguai. Estou terminando um livro sobre minha família e contro histórias tristes e hilárias tanto de uma vertente como de outra. Breve em meu blogue contarei uma história envolvendo meus bisavós paternos e o trágico fim de um mascate libanês.
    Um grande e respeitoso abraço.

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  7. adoro esse tipo de historia,conhecer mais sobre as pessoas bjs Rosinha

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  8. Muito interessante, gostei das fotos e de saber da história e recordações de um doble chapa. Vou tentar estar por aqui na próxima sexta-feira para saber mais recordações.
    Beijinhos e um bom fim de semana.

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  9. Es realmente interesante leer puntos de vista como el que nos presentas acá.

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  10. Oi Anajá!
    Td sempre tem um porquê! Achei interessante o termo e o seu uso.
    Boas lembranças, bonitas fotos....

    Abração e ótimo domingo.

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  11. Oi Anaja tudo bem vim te avisar que te convidei para participar de uma tag de resposta la no meu blog....

    http://patydetudo.blogspot.com.br/2014/07/tag-das-mininas-participando-fui.html

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  12. Oi Anajá!
    Linda história!
    É sempre bom saber mais um pouco.
    Beijos

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  13. Olá amiga Bjinhos bom Domingo ♥
    http://sarranheira.blogspot.pt/

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  14. Anajá querida,
    Belo texto com muitas recordações!As fotos estão lindas,amei!Uma maravilhosa
    semana,fique com Deus.
    Grande beijo

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  15. Amei teu blog!
    Levei um pouquinho dele, para o meu...
    Beijos!

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  16. Nao conhecia esse" termo" muiiito bom a gente sempre aprendi um pouco nao é? visitando as amigas.beijocas e otima semana.

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  17. LINDO...
    beijocas,sejamos gentil.
    saudadeeeeeeeeeeeeeeee e muitooooooooooo feliz por ouvir vocês.
    tenham uma semana abençoada.
    DEUS ABENÇOE A GRANDE FAMILIA.

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  18. ANAJÁ, Não pode ser depois, tem que ser Ana já! Se você não é ainda amiga dessa criaturinha, não sabe o que está perdendo. Tenho 3 irmãs mas somente tenho uma amizade assim, por uma delas, a Francelina que a chamamos de França. Penso que em encarnação passada, Anajá certamente deveria ter sido uma irmã, mãe ou ainda minha filha. Tudo começou com o Coral, o coral terminou e ficamos um ano nos reunindo para jantar e cantar, os integrantes do coral foram se dispersando, Por fim sobrou a amizade com essa família. Não consigo ir ao centro sem chegar para a charla costumeira com esta minha amiga, minha irmã de fé camarada. Mas cuidado! Anajá pega! é um íman que atrai afeições. Todas as pessoas que a conhecem ficam gostando dela. No dizer de um cunhado meu, mais grosso que moirão de canto de cerca, é uma amizade sarnosa. Com ela, (plageando) conversar e coçar é só começar.
    Nelcy

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  19. Querida Anajá
    Já sei o que significa doble chapa! Está muito bem dito!
    Apreciei imenso a crónica apresentada.
    Um beijinho
    Beatriz

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Obrigada pela carinhosa visita. Tenha um ótimo dia.