A VIZINHANÇA
Um tio muito racista por certo, desaprovou a compra do campo por meu pai, que irás fazer no meio dessa negrada, exclamou! Mas meu velho era amigo de todos eles. Perto da propriedade havia varias pequenas propriedades de descendentes de escravos. O descendente do senhor de escravos, um solteirão deixou-lhes de herança a fazenda que foi partilhada, cada um ficando um lote em torno de 50 Hectares. Um deles, Pedro Brum, compadre de papai, herdou seu lote e a casa Grande de Pedra com paredes de 1 m de espessura, mangueiras de pedra e potreiros de pedra. Morou toda sua vida ali, quando já estava velho intentou de encontrar algum possível tesouro escondido entre as paredes de pedra e começou a desmancha-las, o comentário geral é que estava caduco. Passamos a vida inteira, chamando as pretas velhas de tias e pedindo a benção. Os pretos faziam um salão de festas com paredes e telhado de galhos de eucaliptos, ao qual davam o nome de caramanchão, e ali faziam um grande baile da comunidade deles. O local era na tia Zezé divisa com nosso campo. Seus filhos tiravam leite e escondiam em garrafas dentro da sanga (Riacho) para beber depois, pois ela dava só um copinho pra cada um, e resto era pra fazer queijo, os coitados dos crioulos viviam sempre com fome, o maior almoçava em casa e saia correndo para almoçar de novo em nossa casa. Um deles o Domingos almoçava lá em casa e saia correndo e ia almoçar de novo na Dona Donica. Noutra extremidade morava o finado Rodolfo e Dona Picucha. Tinham um cachorrão com um latidão imponente, ouvindo aquele latido ao longe, nos, garotos inventávamos que o cão estava dizendo: João-joão-vem-dar-benção-pra-o-vô-vô. O Seu Aires, também vizinho, um pretinho solteirão muito buenacho, fez um sovéu (Laço de couro torcido) para papai, era um artista como guasqueiro (Pessoa que fazia cordas trançadas para a encilha e a lida no campo). Sempre que precisávamos uma mão no serviço lá estava ele solícito. O Florentino e Dona Otilia, O tio Marcirio e Dona Eufrazia. Ele era músico, tinha quase todos os instrumentos em casa. Dona eufrazia e filhas não perdiam um baile. A Sra Donica e o Mita cujo filho Feliz casou com minha irmã. Certa feita um primo da família Neves veio fazer uma visita de pêsames para a Donica, quando morreu o Sr.Mita e na calada da noite foi para um baile na casa do finado Agostinho acompanhado do Bode (Um mulato filho de criação da família, era uma exponja para consumir álcool) no dito baile houve um bochincho muito feio (briga) foi uma correria de homens e mulheres, o Bode perdeu na confusão uma alpargata (chinelo) e calçou outro chinelo vermelho feminino pensando que era o seu. De madrugada vinham chegando, o Neves com o Bode bêbado, que insistia em voz alta: Mas que boochiiincho!!! Cala a boca Bode! dizia o outro. De manhã a Donica encontrou aquele chinelo feminino e queria saber a procedência e tudo veio as claras. Imaginem fazer uma visita de Pêsames e fugir para um baile na calada da noite? Esse finado Agostinho era um caso aparte, as histórias em torno dele, na entrada do inverno quando alguém se gripava ele se jactava nas suas expressões atípicas “Van cês não querem se prificá eu já me prifiquei” tradução: vocês não querem se purificar eu já me purifiquei! A purificação dele era um preventivo contra ao gripe a base de alho e limão. Contavam que mandou a mulher dar meio ovo cozido para o filho bebê que estava com fome e como o baby continuava a chorar de fome ele ordenou: Dá a outra metade, que arrebente esse diabo! Havia uma velha parteira chamada tia Maneca, muito pobre, não havia pensão para as viúvas, ela ia de casa em casa com uma porção de saquinhos e pedia para enchê-los: arroz, feijão, açúcar, erva mate. Era muito desbocada. Na brincadeira ela ia dizendo a dona da casa enche meus saquinhos sua puta. Exame pré-natal e outras cocitas era manga de colete. As mulheres engravidavam e cumpriam sua gestação como a natureza mandava. Igual vaca, ovelha e outros bichos. A parteira já estava de sobre aviso quando chegava a hora, ia-se a galope com um cavalo de a cabresto chama-la, e lá vinha ao mundo mais um Cordeiro. Moveis e utensílios eram para sempre, tínhamos um berço de madeira com duas madeiras curvas nos pés, para embalar o rebento ela havia criado os filhos de tia Chica (irmã da mãe) que não eram poucos, embalou-nos todos e em pleno final do século XX meu irmão mais moço, o Lacy levou-o para criar as suas filhas.
Terra aonde nasci, ainda pertence a família.
Na próxima sexta-feira, segue mais recordações de um doble chapa.
Nelcy Cordeiro
Até a próxima se Deus quiser...
Anajá Schmitz
Olá, gostei da história e das belas fotografias...Espectacular....
ResponderExcluirCumprimentos
Boa Tarde...que História em ,rs , Bacana .....as Fotos são Lindas ....!!!
ResponderExcluirHola Anaja querida ! A mi no me gusta la gente rasista , bueno nosotros nosotros no tuvimos escalamos ni convivimos con gente de otro color de piel , pero pienso que todos somos hijos de Dios
ResponderExcluirBesos
ótima historia bjs Rosinha
ResponderExcluirLi, reli e apetece voltar a desfrutar.
ResponderExcluirE estar nesse sitio carregado de tanto!
Uma historia feita de estorias de vida, de modo tao real...
Linda.
Genuina como este bem haja por dar a conhecer o mundo.
Tocou imenso.
Abracos.
Gostei dessa história real e dessa liberdade de vida de campo, lindo, bom fim de semana beijos
ResponderExcluirÉ sempre um prazer tão grende visitar seu blog e acompanhar suas postagem.
ResponderExcluirAmoooo sinto-me em casa.
Bom fim de semana
Bjinhos ♥
http://sarranheira.blogspot.pt/
Oiê!
ResponderExcluirQue história bacana de se ler...
Sempre gostei de morar no campo...
morro de saudades da época de infância...
Adorei as fotos...
Fica com Deus...
Beijokassssss...
Oi amiga, passei p/desejar um maravilhoso FDS p/vcs e acabei fazendo uma viagem linda com essa história.
ResponderExcluirParabéns...
Bjsssssss p/todos
Gracias por compartir tan linda historia con nosotros. Ahora sabemos un poquito más de ti y tu familia.
ResponderExcluirTenho saudades de quando morei no campo
ResponderExcluiro ar que respirávamos era tão puro, as frutas
as pessoas como vc diz ai , tão amigas e companheiras
hj na cidade td é diferente, tenho mesmo saudade desse tempo
Abraços de bom final de semana
(¯`v´¯)
`*.¸.*´ Rita (¯`v´¯)
Disso está feita esta vida, de vivências, e, sobre tudo, daquelas que nos deixam boas recordações, que é o que realmente importa.
ResponderExcluirExcelente relato duma vida rural rica em matizes.
A árvore grande deixou-.me impressionado. Boas fotos para enriquecer o teu relato.
Abraços de vida
Muhcas gracias por la visita me ha encantado venir a conocerte , sin duda el lugar donde naciste es precioso no hay mas que ver las fotos ,no hay como la vida en el campo la vida en la ciudad es totalmente difirente en la mayoria de los casos ni se conocen los vecinos.
ResponderExcluirBicos mil y feliz domingo wapa.
Para continuar a acompanhar.
ResponderExcluirBoa semana!
...quando terminei de ler, respirei fundo. Parecia estar dentro de um daqueles livros que quando começa a ler não quer mais parar. Por mim leria o dia todo, é linda demais essa história. Amiga, sua vida aí daria um livro, porque não escreve? Lembranças que vão se perder se você não registrar!! É como tesouros, diamantes lapidados, guardados somente em sua memória, não deixe apagar. Beijos minha flor adorada.
ResponderExcluirOi querida,
ResponderExcluirDesculpe não ter vindo ontem, mas feliz dia do amigo! Tenha uma ótima semana e fique com Deus!
Puro deleite essa história.
ResponderExcluirMorar no campo é um sonho que um dia hei de realizar.
bjs
Que privilégio fazer parte uma uma história assim!
ResponderExcluirAmei ler cada palavra escrita hoje, sempre estarei por aqui para conhecer um pouco mais.
Bjus. Rose.
Querida Anajá
ResponderExcluirO que mais me impressionou no relato,foi saber como as pessoas partilhavam com tanta frequência e facilidade!
Belo relato,com alguns indicadores de costumes e culturas.Gostei imenso.
Um beijinho
Beatriz